Pego no último copo percebendo como o vinho abala no interior. Movo a mão descrevendo um círculo antes de pressionar com o vidro os lábios. Aguardo. Falas-me. Não te escuto. Finjo que sim para que continues a te mover de forma natural. Passeias as cuecas mais velhas e moves o cu enquanto sorris para mim, que imito o gesto sem compreender. É abril quem se insinua ao passar-me a mão pelo ombro. Quem intercambia um desejo com a mirada. Quem me leva. É abril quem murmura. Forte e fraco. Abril. A forma das mãos nas superfícies. Sonâmbulo abril. A resposta a qualquer questão. Pergunta e resposta no mesmo abril. As falanges sobre o corpo. As palavras. Abril.
Divido as porções maiores e petisco. Os instantes que se detenham abalados pela língua, como a fruta que deposita delicadamente os sabores em cada receptáculo sensível, identificando-os um a um. Existindo neles abril, todo e parte.